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Channel: Rosa Xhoque
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Por vezes há alturas, que sem saber como nem porquê, me fazem abrir os olhos, olhar à minha volta, e analisar o caminho que percorri até agora.

Como se de repente acordasse, e me deparasse com uma realidade que sempre esteve ali, mas na qual nunca reparei.

Às vezes parece que acordo e me deparo com situações, com algo na minha vida, que não queria que fossem bem como são e que nem sei como ficaram assim.

Às vezes penso como cheguei a este ponto, e o que terei feito (mal ou bem) para que as coisas sejam como são neste momento.

Que caminho percorri eu, que escolhas fiz, porque agi ou pensei assim?!

Estas questões devem passar pela cabeça de todas as pessoas, pelo menos uma vez na vida, relativamente a diversas situações.

A questão que paira sobre mim neste momento prende-se com as amizades.

Com o fazer amizades e conseguir mantê-las durante toda a nossa vida.

Dei por mim a pensar o que será feito das minhas amigas, e a tentar perceber efectivamente quantas amigas tenho neste momento.

Lembro-me, e as pessoas que me conhecem ou conheceram mais nova também se lembrarão, que era uma pessoa que fazia amizades com muita facilidade.

Sempre fui extrovertida (não tanto como aparentava, pois também tenho o meu grau de timidez, embora nunca o deixasse transparecer muito), sociável, conversadora, que conseguia falar com qualquer pessoa assim que a conhecia, e que até ganhava a amizade dessas pessoas facilmente.

No entanto, e nos dias de hoje, começo a ver-me como uma pessoa diferente da que pensava ser.

Não porque tenha deixado de ser extrovertida, sociável e conversadora, capaz de falar com qualquer pessoa assim de um momento para o outro.

Não é nestes campos que vejo a diferença.

Mas analisando bem o meu leque de amizades, e falo daquelas amizades que nasceram cedo e se foram mantendo até hoje, com quem se contacta frequentemente, com quem se está em diversas alturas, com quem se combinam jantares, lanches, cafés ou só uma conversita, com quem se vai de férias, etc, etc ... analisando esse leque agora, deparo-me com uma surpresa desagradável.

Onde estão as minhas amigas?! ...

Tenho a minha melhor amiga e ... mais nada.

Olhando de olhos bem abertos à minha volta, sou uma pessoa que conquistou amizades, amizades que tiveram algum crescimento, mas que pelos vistos eu não reguei, e por isso murcharam.

Tal como o amor, também a amizade depois de ser plantada, tem de ser regada, para poder crescer, porque se não a formos regando ela murcha.

Olho à minha volta, e vejo as minhas amigas de outros tempos com várias amigas à sua volta. Amizades que vêm desde há muitos anos, outras talvez um pouco mais frequentes, mas que de certa forma se foram mantendo.

Vejo que mantêm um determinado grupo de amigas, com quem se reúnem frequentemente, ou que pelo menos tentam fazê-lo, com quem não deixam de estar em contacto, não importa a distância a que estejam umas das outras, que se juntam para jantares, almoços, lanches, cafés, saídas e etc.

Amizades que regaram ao longo dos anos.

E depois olho para mim, que sempre estive rodeada de gente, e vejo que estou sozinha.

Que as amizades de outrora murcharam, e se afastaram.

Mas apenas de mim.

Vejo que afinal não consigo manter pessoas à minha volta.

Porque se pensar bem, e se pensar em marcar qualquer coisa, um encontro de amigas, ou qualquer coisa do género, deparo-me com uma lista praticamente em branco. Porque as pessoas de quem me lembro, que outrora eram minhas amigas, e com quem saía e falava frequentemente, deixaram de ter contacto comigo (ou eu com elas).

Reparo agora que as minhas amizades são curtas demais.

Que faço amizades, que as mantenho durante um espaço de tempo, espaço esse em que são amizades aparentemente fortes, mas que depois se desvanecem, sem saber bem porquê, até praticamente desaparecerem.

E sinto-me só. E tenho saudades dos momentos que passei com essas amigas.

E fico a pensar porque não ficaram essas amizades nos dias de hoje.

Eu sei que a vida muda, que crescemos, começamos a trabalhar, casamos, temos filhos, e as coisas não voltam a ser como dantes.

No entanto, e olhando à minha volta, começo a perceber que talvez não sejam como dantes apenas para mim.

Porque as minhas amigas de outrora continuam a ter as suas amigas, que cresceram com elas, e se mantiveram lado a lado.

E agora, que penso nisso, e que acordei de repente para esta realidade, tenho pena, tenho saudades, e sinto-me só.

Sinto-me outra pessoa, uma persona non grata, uma pessoa que foi esquecida (talvez por sem querer ter esquecido as outras), uma pessoa sem amigas.

 

Não sou pessoa de me arrepender das coisas que faço, mas sim de aprender com elas.

No entanto, neste campo, e hoje, sinto-me profundamente arrependida de não ter regado as amizades que fui fazendo ao longo da vida, e de as ter deixado fugir por entre os dedos.

E agora, haverá volta a dar?!

 

 


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