Vi no fim-de-semana passado o filme "Ensaio sobre a Cegueira", uma adaptação do livro de José Saramago.
Eu, que li o livro, gostei do filme, e considero que está mesmo muito fiel ao livro.
Mas, admito, gostei muito mais de ler o livro, e deixar que a imaginação fosse a pouco e pouco desenhando a cara das personagens, a sua figura, os seus movimentos, e criando o seu tom de voz.
Gostei muito mais de ser eu a desenhar os cenários onde se desenrolava a acção, a imaginar os sons e os cheiros que me eram descritos no livro.
Já me tinha acontecido o mesmo em relação ao "Código Da Vinci".
E, se ainda não viram o filme, nem leram o livro, sigam o meu conselho - Leiam o livro primeiro.
Eu sei que Saramago não convence muita gente, e que a sua escrita não é para todos os gostos, mas vale a pena.
No fim do livro, lembro-me de ter concluído que aquilo era uma mensagem:
Mais cego é aquele que não quer ver.
Por vezes ficamos cegos perante determinadas cenas, situações, locais, momentos, vivências, pessoas.
Ficamos cegos. Porque não queremos ver o que está mesmo à nossa frente, o que é óbvio, o que nos incomoda, o que mexe connosco, o que nos faz pensar demais.
Não queremos ver o que se passa à nossa volta.
Não queremos ter de ver, para não ter de agir.
E à nossa volta há tanta gente assim, que de facto parece que, de repente, a cegueira neste mundo se tornou numa pandemia, e ficámos todos cegos de um momento para o outro.
E, infelizmente, só quando aquilo que não queremos ver nos "toca à porta", é que recuperamos a visão, e percebemos que afinal ser cego não é assim tão bom, e ficamos incomodados com a cegueira à nossa volta.
E passamos a compreender, a estar atentos a tudo à nossa volta, a dar importância aos outros, e a olhar com olhos de ver.
Todos somos cegos, quando não nos interessa ver.
E tu, também andas cego?